1921 - 1931

Em Portugal

1922 | Nasce José Saramago, um dos maiores escritores portugueses

Na década em que o carro conquista popularidade a nível nacional, nasce José Saramago. O escritor e Prémio Nobel da Literatura foi uma figura ímpar da cultura portuguesa e lançou-se no mercado de trabalho como serralheiro numa oficina de automóveis.

 

Crédito: Wikimedia Commons

José de Sousa Saramago nasceu numa família de camponeses sem terra a 16 de novembro de 1922, na Azinhaga do Ribatejo, em Santarém. Depois da escola primária, entrou para uma escola de ensino profissional por falta de meios financeiros para estudar no liceu e, durante cinco anos, aprendeu o ofício de serralheiro mecânico. Terminado o curso, trabalhou pela primeira vez durante cerca de dois anos como serralheiro mecânico numa oficina de reparação de automóveis. Também por essa altura tinha começado a frequentar, nos períodos noturnos de funcionamento, a biblioteca pública do Palácio Galveias, em Lisboa.

Em 1947 publicou o seu primeiro livro que intitulou “A Viúva”, mas, por razões editoriais, viria a sair com o título de “Terra do Pecado”.

Seis anos depois, em 1953, terminaria o romance “Claraboia”, publicado apenas após a sua morte. Foi funcionário publico, escritor, ensaísta, jornalista e chegou a subdiretor do Diário de Notícias. Com o romance “Levantado do Chão”, recebeu o Prémio Cidade Lisboa em 1980 e afirmou-se como um autor de pensamento de esquerda. Mas é “Memorial do Convento” que o confirma como um dos grandes autores de língua portuguesa. Recebeu o Prémio Camões em 1995 e o Prémio Nobel de Literatura em 1998. Até 2010, ano da sua morte, a 18 de junho, em Lanzarote, José Saramago construiu uma obra incontornável na literatura portuguesa e universal que lhe valeu o título de um dos maiores escritores portugueses.

1928 | São implementadas novas regras de circulação em Portugal

Implementaram-se novas regras de circulação em 1928 que revolucionaram os hábitos dos portugueses com a obrigatoriedade de circular à direita. A regra foi alvo de uma campanha de sensibilização organizada pelo Diário de Notícias.

 

Crédito: Global Imagens

O relógio marcava cinco da manhã quando, no dia 1 de junho de 1928, começou-se a “girar ao contrário”. Leia-se, pela direita. Tinha entrado em vigor a regra de circulação que decretou a obrigatoriedade de circular à direita. Regras, essas, que vieram agitar os hábitos dos condutores portugueses e, para o efeito, criaram-se dísticos que foram espalhados um pouco por todo o lado, contribuindo para a boa ordem da circulação automóvel. Os condutores de Lisboa foram os primeiros a inaugurar, de madrugada, a condução à direita com o resto do país a seguir o exemplo a partir da meia-noite do mesmo dia.

Na época, existiam cerca de 31 mil condutores com carta de condução para aproximadamente 28.000 veículos.

A nova regra de trânsito foi mesmo alvo de uma grande campanha de sensibilização organizada pelo Diário de Notícias com o patrocínio da Vacuum Oil, através de cartazes e faixas colocados por Portugal. “Pela direita. Desde 1 de junho”, anunciavam. O país abandonava assim a influência britânica de conduzir à esquerda um ano depois de ter sido criada a Junta Autónoma de Estradas e publicados dois códigos da estrada, onde vigorava a regra francesa e americana da circulação à direita. A obrigatoriedade da circulação rodoviária pelo lado direito das estradas também foi implantada na Guiné, em Angola e Timor. Mas, em Macau, em Goa e em Moçambique, atendendo às suas características particulares de estarem junto a colónias inglesas, manteve-se a condução pelo lado esquerdo das estradas.

Na Citroën

10 Anos, grandes marcos

1922 | André Citroën cria a primeira empresa europeia de crédito automóvel

Em 1922, André Citroën desenvolveu ideias de marketing inovadoras que revolucionaram a indústria automóvel. De manuais de reparação a créditos automóveis, as suas técnicas de venda e comunicação colocaram a marca francesa na boca do mundo.

 

Crédito: Médiathèque Citroën

Desde 1919 que a Citroën é uma marca conhecida pela audácia e criatividade. Duas características herdadas do seu fundador André Citroën que, depois do lançamento do carro 10 CV Modelo A, apostou em ideias de marketing inovadoras acompanhadas de iniciativas importantes sobre técnicas de venda e comunicação. No ano de 1922, o empresário francês criou a primeira empresa europeia de crédito automóvel chamada “Sovac” para ajudar os seus clientes a comprarem carros a uma taxa de juro reduzida. Seguiram-se novos métodos comerciais e testes espetaculares como a abertura do sétimo Salão de Paris, onde um avião, ao longo de cinco quilómetros, escreveu o nome Citroën no céu.

Uma estratégia inteligente aquando do lançamento do C3 5 HP, o segundo veículo da marca, que revolucionou a comunicação da marca.

Mas, para além destas inovações, a Citroën foi a primeira marca a ter uma rede de concessionários, um serviço de pós-venda com garantia de um ano e oferta da revisão. Ainda sobre a direção de André Citroën, a marca está ligada à criação da primeira empresa de crédito para industriais e o primeiro manual de reparação, com um catálogo de venda de peças individuais. O fundador também ofereceu sinais de trânsito, com o logótipo da sua marca estampado no metal, a cidades francesas e ainda começou a fabricar carros em miniatura como o Citroënnette para as crianças brincarem com uma réplica dos “carros dos pais”. Dotado de uma excecional vocação criativa, André Citroën sabia que o automóvel se tornaria um instrumento de trabalho e liberdade ao alcance de todos.

No Mundo

1921 | Albert Einstein vence Prémio Nobel da Física

No dia 10 de novembro de 1922, Albert Einstein foi galardoado com o Prémio Nobel da Física pelas suas contribuições à física teórica. A relatividade não era bem compreendida, mas é graças a esta teoria que o seu carro funciona.

 

Crédito: Wikimedia Commons

Albert Einstein é um dos maiores génios da humanidade que alterou os conceitos de tempo e de espaço. A 25 de novembro de 1915, o físico e matemático apresentou, na Academia de Ciências, em Berlim, a Teoria da Relatividade e formulou a equação que se tornou a mais famosa do mundo: E = mc². Einstein argumentou que o tempo e espaço não eram entidades rígidas e estáticas, mas entidades vivas. Definiu uma nova entidade, a curvatura espaço-tempo, que podia ser distorcida de acordo com a velocidade e a gravidade e que, quanto mais intensas fossem essas magnitudes, mais intensa poderia ser essa deformação do espaço-tempo.

Em 1919, comprovou a sua teoria numa experiência realizada durante um eclipse solar e, em 1921, venceu o Prémio Nobel de Física pelas suas contribuições à física teórica – especialmente pela descoberta da lei do efeito fotoelétrico.

A relatividade não era bem compreendida, mas a verdade é que atualmente alcançou várias utilidades práticas, em campos muito distintos, da energia nuclear à indústria automóvel. A maioria dos carros não funcionaria sem a teoria da relatividade especial. De acordo com os cálculos de Pekka Pyykko, da Universidade de Helsínquia, as baterias de chumbo (inventadas em 1859 e a forma mais antiga de bateria recarregável ainda em uso) devem a sua capacidade de ativar o motor de partida a Albert Einstein. Um feito reconhecido como uma das maiores conquistas intelectuais da humanidade que, do funcionamento do GPS ao magnetismo, revolucionou o nosso dia a dia.

1925 | O livro “The Great Gatsby” é publicado

Publicado pela primeira vez em 10 de abril de 1925, o livro “The Great Gatsby” é uma obra-prima de F. Scott Fitzgerald que impulsionou a crítica ao sonho americano e a popularização dos automóveis como símbolo de riqueza e poder.

 

A existência de F. Scott Fitzgerald coincide literariamente com os dois decénios que separam as duas guerras, repartindo-se entre a América onde nasceu, numa pacata cidade do Middle West, no Minnesota, e a França, onde viveu durante vários anos com a família. O seu nome evoca-nos uma geração que associamos à lendária idade do jazz, vertiginosa e fútil. Geração, essa, que inspirou o seu maior romance publicado pela primeira vez em 1925 numa crítica ao sonho americano e à impossibilidade de alcançar a felicidade através desse meio. Originalmente, o sonho americano é sobre a descoberta da felicidade mas, na década de 1920, esse sonho transformou-se num desejo de riqueza sem olhar a meios para atingir fins.

Ao longo de 200 páginas, Fitzgerald funde a sua própria experiência de vida e uma linguagem de grande qualidade poética para demonstrar, através de símbolos e acontecimentos, a decadência do materialismo e falta de moral.

Simultaneamente, as palavras de Fitzgerald entrelaçam-se com a história da indústria automóvel e os carros mais desejados da época. No romance, Gatsby possui inúmeros carros e, um deles, tem uma cor amarela para chamar à atenção e captar o entusiamo popular. Este método de transporte, como um instrumento de trabalho e liberdade ao alcance de todos, passa a ser encarado como um status de riqueza e poder pela sociedade. Hoje, “The Great Gatsby” é um clássico da literatura americana e um livro de leitura obrigatória em escolas de todo o mundo.